sexta-feira, 15 de maio de 2009

Memórias de minhas putas tristes - Gabriel García Márquez


Gostei muito de partes "secundárias" do texto (Principalmente as referências ao gato!), o assunto do título em si foi a parte menos interessante para mim.

Um gato entra em sua vida. Até pessoas pouco afeitas aos bichanos não conseguem resistir aos seus encantos.
"Acho contra a natureza que um homem se entenda melhor com seu cão do que com sua esposa, que o ensine a comer e a descomer na hora certa, a responder perguntas e a compartilhar suas pernas. mas não recolher o gato dos tipógrafos seria uma indelicadeza. Além do mais, era um precioso exemplar de angorá, de pele rosada e lustrosa e olhos iluminados, cujos miados pareciam a ponto de ser palavras. me deram numa canastra de vime com certificado de sua estirpe e um manual de uso como o que vem com as bicicletas para armar."

O gato veio com manual! (Ninguém deu o manual para o gato saber como esperavam que ele se comportasse!)
"Eu tinha me dedicado a estudá-lo como estudei latim. O manual dizia que os gatos cavucam a terra para esconder seu esterco, e que nas casas sem quintal, como esta, fariam isso nos vasos de plantas ou em qualquer outro esconderijo. O apropriado seria preparar para ele desde o primeiro dia uma caixa com areia para orientar seu hábito, e foi o que fiz. Também dizia que a primeira coisa que fazem numa nova casa é marcar seu território urinando por todos os lados, e aquele talvez fosse o caso, mas o manual não dizia como remediar. Eu seguia suas artimanhas para me familiarizar com seu hábitos originais, mas não dei com seus esconderijos secretos, seus lugares de repouso, as causas de humores volúveis. Quis ensiná-lo a comer na hora certa, a usar a caixinha de areia do terraço, a não subir na minha cama enquanto eu dormia nem a fuçar nos alimentos na mesa, e não consegui fazer com que entendesse que a casa era dele por direito adquirido e não como um butim de guerra. Acabei deixando que fizesse o que bem entendesse."

O gato está velho.

"Senti-me inerme entre dois fogos: não havia aprendido a gostar do gato, mas tampouco tinha coração para ordenar que o matassem só porque estava velho. Em que parte o manual dizia isso? "

Percepção da velhice.

"A verdade é que as primeiras mudanças são tão lentas que mal se notam, e a gente continua se vendo por dentro como sempre foi, mas de fora os outros reparam."

O censor.
"Ficava por lá até assegurar-se de que não houvesse letra impune na edição da manhã. Tinha uma aversão pessoal contra mim, por minha veleidadesde gramático, ou porque utilizava palavras italianas sem aspase sem grifar quando me pareciam mais expressivas que em castelhano, como deveria ser de uso legítimo entre línguas siamesas. Depois de aturá-lo por quatro anos , tínhamos terminado por aceitá-lo como a má consciência de nós mesmos."

Minha pergunta é: um livro com um título desses se não fosse escrito por um escritor já consagrado seria realmente respeitado? - Eu sei, eu sei, ando bastante moralista ultimamente!


A frase de abertura do livro já me causou estranheza: "No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem." - Velho tarado e pedófilo!? Além disso, nunca entendi esse prazer, essa falsa sensação de poder em tirar a virgindade de uma menina... enfim, vale a pena ler, pelo menos ele tem um gato fofo!!!! :)

Um comentário:

Lu Monte disse...

Um escritor que ainda não fosse consagrado não arriscaria. É pra quem pode, não pra quem quer. ;)

(Ah, no começo, eu bem que queria colocar regras pras minhas gatas - acho que toda gateira de primeira viagem tenta, né? Hoje, fazem quase tudo o que querem, hehehe.)